De Perpetua Virginitate B. Mariae

Caput 20

In illud nunc impetum facio, in quo tu virginitatem et nuptias comparando, disertus esse voluisti. Risimus in te proverbium: «Camelum vidimus saltitantem.»

Dicis: «Numquid meliores sunt virgines Abraham, Isaac, et Jacob, qui habuere conjugia? Numquid non quotidie Dei manibus, parvuli finguntur in ventribus, ut merito erubescere debeamus, Mariam nupsisse post partum? Quod si hoc illis turpe videtur, superest ut non credant, etiam Deum per genitalia virginis natum. Turpius est enim juxta eos, Deum per virginis pudenda genitum, quam virginem suo viro nupsisse post partum.»

Junge si libet et alias naturae contumelias, novem mensibus uterum insolescentem, fastidia, partum, sanguinem, pannos. Ipse tibi describatur infans, tegmine membranorum solito convolutus. Ingerantur dura praesepia, vagitus parvuli, octavae diei circumcisio, tempus purgationis, ut probetur immundus. Non erubescimus, non silemus. Quanto sunt humiliora quae pro me passus est, tanto plus illi debeo. Et cum omnia replicaveris, cruce nihil contumeliosius proferes: quam profitemur, et credimus, et in qua de hostibus triumphamus.

A Virgindade Perpétua de Maria

Capítulo 20

Ataco agora aquele trecho no qual, ao comparar virgindade e casamento, quiseste ser eloquente. Nós rimos de ti com este provérbio: «Vimos um camelo dançando.»

Dizes: «Será que as virgens são melhores do que Abraão, Isaac e Jacó, que tiveram esposas? Acaso não são os bebês formados pelas mãos de Deus nos ventres maternos todos os dias, de maneira que deveríamos, com razão, nos envergonhar de Maria ter se unido a seu marido depois do parto? Quanto a este fato, se isto lhes parece indecente, resta-lhes também não crerem que Deus nasceu através dos órgãos genitais de uma virgem. Pois, segundo esses, é mais indecente que Deus tenha nascido através das partes vergonhosas de uma virgem do que uma virgem ter se unido a seu marido depois do parto.»

Acrescenta também, se te apraz, as outras injúrias da natureza, o útero inchando durante nove meses, os enjoos, o parto, o sangue, os cueiros. Que imagines o próprio menino envolto na familiar pele protetora. Que apontes as majedouras duras, o choro do bebê, a circuncisão do oitavo dia, o tempo de purificação para que seja demonstrado que ele era impuro. Não nos envergonhamos, não nos calamos. Quanto mais humilhante é o que ele suportou por mim, tanto mais lhe devo. E ainda que tenhas recordado tudo, não apresentarás nada mais ultrajante do que a cruz, que confessamos, na qual cremos e pela qual triunfamos sobre nossos inimigos.