De Perpetua Virginitate B. Mariae
Caput 18
Imperitissime hominum, ista non legeras, et toto Scripturarum pelago derelicto, ad injuriam Virginis tuam rabiem contulisti, in exemplum ejus quem fabulae ferunt, cum vulgo esset ignotus, et nihil boni posset facinoris excogitare, quo nobilis fieret, Dianae incendisse templum; et nullo prodente sacrilegium, fertur ipse in medium processisse, clamitans sese incendium subjecisse: sciscitantibus Ephesi principibus, quam ob causam hoc facere voluisset, respondisse: Ut quia bene non poteram, male omnibus innotescerem. Et hoc quidem Graeca narrat historia.
Tu vero templum Dominici corporis succendisti, tu contaminasti sanctuarium Spiritus Sancti, ex quo vis quadrigam fratrum, et sororum processisse congeriem. Denique cum Judaeis voce sociata, dicis: «Nonne hic est fabri filius? Nonne mater ejus dicitur Maria, et fratres ejus Jacobus, et Joses, et Simon, et Judas, et sorores omnes apud nos sunt?» (Matth. XIII, 55, et Marc. VI, 3) Omnes, nisi de turba, non dicitur. Quis, te oro, ante hanc blasphemiam noverat, quis dupondii supputabat? Consecutus es quod volebas, nobilis es factus in scelere. Ego ipse qui contra te scribo, cum in eadem tecum Urbe consistam albus, ut aiunt, aterve sis, nescio.
Praetermitto vitia sermonis, quibus omnis liber tuus scatet. Taceo ridiculum exordium. O tempora! o mores! Non quaero eloquentiam; quam ipse non habens, in fratre Craterio requisisti. Non, inquam, flagito linguae nitorem, animae quaero puritatem. Apud Christianos enim soloecismus est magnus et vitium, turpe quid vel narrare, vel facere.
Ad calcem venio, et te cornuta interrogatione concludo, sicque tecum agam, quasi superius nihil egerim: Eodem modo dictos esse fratres Domini, quo Joseph dictus est pater, «Ego, inquit, et pater tuus, dolentes quaerebamus te» (Luc. I, 48). Mater haec loquitur, non Judaei. Et ipse Evangelista referens: «Et erant pater et mater illius admirantes super his quae dicebantur de eo» (Ibid., 33), et his similia, quae jam enumeravimus, in quibus parentes vocantur.
Ac ne forte de exemplariorum varietate causeris, quia tibi stultissime persuasisti Graecos codices esse falsatos, ad Joannis Evangelium venio, in quo planissime scribitur: «Invenit Philippus Nathanael, et ait illi: Quem scripsit Moyses in Lege, et Prophetae, invenimus Jesum filium Joseph a Nazareth» (Joan. I, 45). Certe hoc in tuo codice continetur.
Responde mihi, quomodo Jesus sit filius Joseph, quem constat de Spiritu sancto esse procreatum? Vere Joseph pater fuit? Quamvis sis hebes, dicere non audebis? An putabatur? Eodem modo aestimentur et fratres, quo aestimatus est et pater.
A Virgindade Perpétua de Maria
Capítulo 18
Tu, o mais ignorante dos homens, não tinhas lido essas coisas, e, quando todo o oceano das Escrituras foi negligenciado, levaste tua loucura ao ponto de ofender a Virgem, a exemplo daquele homem que, como as fábulas relatam, tendo sido ignorado pela multidão, e sido incapaz de imaginar alguma boa ação para se tornar célebre, ateou fogo ao templo de Diana. E, como ninguém denunciou o sacrilégio, consta que ele próprio apareceu em um lugar público, bradando que fora ele quem havia iniciado o incêndio. Quando as autoridades de Éfeso lhe perguntaram por que ele teria tido a intenção de fazer isso, ele respondeu: «Como não era capaz pelo bem, tornar-me-ia conhecido a todos pelo mal». Isso é o que narra a história grega.
Tu, na verdade, incendiaste o templo do corpo do Senhor, tu desonraste o santuário do Espírito Santo, do qual sustentas que tinham saído uma quadriga de irmãos e um montão de irmãs. De fato, associando tua voz à dos judeus, dizes: «Não é ele o filho do carpinteiro? Não se chama a mãe dele Maria e os seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? E as suas irmãos não vivem todas entre nós?» (Mt. XIII, 55, e Mc. VI, 3) A palavra «todas» se refere apenas a um grande número. Eu te suplico: Quem te conhecia antes dessa blasfêmia? Quem te atribuiria o valor de um dupôndio? Alcançaste o que desejavas e te tornaste célebre por um ato criminoso. Eu mesmo, que contra ti escrevo, ainda que esteja estabelecido contigo na mesma cidade, ignoro, como dizem, se és branco ou preto.
Relevo os erros de linguagem que são abundantes em todo teu livro. Guardo silêncio sobre seu ridículo exórdio. «Oh tempos! Oh costumes!» Não exijo a eloquência que, como tu próprio não a tens, procuraste em teu irmão Cratério. Não peço elegância da linguagem, exijo pureza da alma. Pois, entre os cristãos, é um solecismo e uma falta grave dizer ou fazer algo vergonhoso.
Chego ao fim e te encurralo com um capcioso argumento. Destarte, agirei contigo como se não tivesse feito nada previamente. Eles são chamados de irmãos do Senhor da mesma maneira que José é chamado de seu pai: «Eu e teu pai, aflitos, te procurávamos» (Lc. II, 48). É a mãe que diz essas coisas, não os judeus. E quando o próprio evangelista relata: «Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que diziam dele» (Ibid., 33), e passagens análogas a estas, que já enumeramos, nas quais eles são chamados de seus pais.
E para evitar que, eventualmente, entres em discussão sobre a variedade de exemplares, porque, de um modo muito insensato, tu te convenceste de que os códices gregos foram adulterados, passo ao evangelho de João, no qual está mais claramente escrito: «Filipe encontra Natanael e lhe diz: Encontramos aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas: Jesus, o filho de José, de Nazaré» (Jo. I, 45). Isto certamente está contido em teu códice.
Responde-me, como Jesus poderia ser filho de José, quando é evidente que ele foi gerado pelo Espírito Santo? José era realmente seu pai? Por mais estúpido que sejas, terás a audácia de dizê-lo? Ou ele era estimado como tal? Que seus irmãos sejam considerados da mesma maneira que seu pai também foi considerado.