De Perpetua Virginitate B. Mariae
Caput 17
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Sed ne longum faciam, ad extremam divisionis partem revertar, id est, et affectu fratres dici, qui in duo scinditur, in spiritale et in commune. In spiritale, quia omnes Christiani fratres vocamur, ut ibi: «Ecce quam bonum et quam jucundum habitare fratres in unum» (Ps. CXXXIII, 1). Et in alio psalmo Salvator: «Narrabo, inquit, nomen tuum fratribus meis» (Ps. XI, 23). Et alibi: «Vade dic fratribus meis» (Joan. XX, 17).
Porro in commune, quia omnes ex uno patre nati, pari inter nos germanitate conjungimur. «Dicite, ait, his qui oderunt vos, fratres nostri estis» (Isa. ult. cap. sec. LXX). Et Apostolus ad Corinthios: «Si quis frater nominatur fornicator, aut avarus, aut idolis serviens, aut maledicus, aut ebriosus, aut rapax, cum ejusmodi nec cibum sumere» (I Cor. V, 11), et caetera his similia.
Interrogo nunc, juxta quem modum fratres Domini in Evangelio intelligas appellari. Juxta naturam? Sed Scriptura non dicit, nec Mariae eos vocans filios, nec Joseph. Juxta gentem? Sed absurdum est, ut pauci ex Judaeis vocati sint fratres, quum omnes qui ibi erant hac lege Judaei, fratres potuerint appellari. Juxta affectum humani juris ac spiritus? Verum si sic, qui magis fratres quam Apostoli, quos docebat intrinsecus, quos matres vocabat et fratres? Aut si omnes quia homines, fratres, stultum fuit nuntiari quasi proprium Ecce fratres tui quaerentes [Al. quaerunt] te; cum generaliter omnes homines hoc jure sint fratres.
Restat igitur, ut juxta superiorem expositionem fratres eos intelligas appellatos, cognatione, non affectu; non gentis privilegio, non natura. Quomodo Lot Abrahae, quomodo Jacob Laban est appellatus frater, quomodo et filiae Salphaad accipiunt Clerum inter fratres suos, quomodo et Abraham ipse Saram sororem suam habuit uxorem. Etenim ait, «Vere soror mea est de patre, sed non de matre» (Genes. XX, 11), id est, fratris est filia, non sororis. Alioqui quale est, ut Abraham vir justus, patris sui filiam conjugem sumpserit, cum in primis hominibus propter aurium sanctitatem idipsum Scriptura non nominet, malens intelligi, quam proferri; et Deus lege postea sanciat, ac minetur: «Qui acceperit sororem suam de patre suo, vel de matre sua, et viderit turpitudinem ejus, et ipsa viderit turpitudinem illius, opprobrium est: et exterminabuntur coram filiis generis sui. Turpitudinem sororis suae detexit, peccatum suum recipiet» (Levit. XVIII, 9).
A Virgindade Perpétua de Maria
Capítulo 17
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Mas para não me alongar, retornarei à última parte de nossa divisão, ou seja, aos irmãos que são assim chamados por afeição, que se divide em dois sentidos: espiritual e geral. No sentido espiritual, porque todos nós, cristãos, somos chamados irmãos, como neste lugar: «Vede como é bom e agradável habitar todos juntos como irmãos» (Sl. CXXXIII, 1). E em outro salmo o Salvador diz: «Anunciarei teu nome aos meus irmãos» (Sl. XXII, 23). E em outro lugar: «Vai a meus irmãos e dize-lhes» (Jo. XX, 17).
Também no sentido geral, porque todos somos nascidos do mesmo pai, unidos entre nós pela mesma irmandade. «Dizei àqueles que vos odeiam, sois nossos irmãos» (Is. LXVI, 5 segundo LXX). E o Apóstolo aos Coríntios: «Se algum irmão for chamado de devasso ou avarento ou idólatra ou injurioso ou beberrão ou ladrão, nem tomar refeição com tal homem» (I Cor. V, 11), e outros exemplos análogos a esses.
Agora eu te pergunto de que modo entendes que os irmãos do Senhor são chamados no Evangelho. Segundo a natureza? Mas a Escritura não o diz, pois não os chama nem de filhos de Maria, nem de José. Segundo a etnia? Mas é absurdo que, dentre os judeus, poucos tenham sido chamados de irmãos, quando, por essa regra, todos os judeus que ali estavam poderiam ser chamados de irmãos. Segundo a afeição inerente à dignidade e ao espírito humano? Mas se assim fosse, quem eram mais irmãos que os Apóstolos, aos quais o Salvador ensinava interiormente, aos quais chamava de mães e irmãos? Ou se todos, por serem homens, são irmãos, seria insensato ser anunciado como particular: «Eis que teus irmãos te procuram,» já que, de um modo geral, todos os homens, por esta dignidade, seriam irmãos.
Resta, pois, entender, conforme a explicação precedente, que eles foram chamados de irmãos por causa do parentesco, não por afeição, não por privilégio étnico, não por natureza. Como Ló era irmão de Abraão, como Jacó foi chamado de irmão de Labão, assim como as filhas de Salfaad recebem herança entre seus irmãos, assim como o mesmo Abraão teve Sara, sua irmã, por esposa. Pois ele diz: «Ela é realmente minha irmã, filha de meu pai, mas não de minha mãe» (Gên. XX, 12), isto é, ela é filha de seu irmão, não de sua irmã. De outro modo, como é possível que Abraão, um homem justo, tenha tomado por esposa a filha de seu pai, uma vez que, no caso dos primeiros homens, em vista da integridade de nossos ouvidos, a Escritura não chama a atenção para isso, preferindo que esteja subtendido a que esteja expresso? Em seguida, Deus estabeleceria por lei e ameaçaria: «O homem que tomar por esposa sua irmã, filha de seu pai, ou de sua mãe, e vir a nudez dela e ela vir a dele, comete uma ignomínia. Serão exterminados na presença dos membros do seu povo, pois descobriu a nudez de sua irmã, e levará o peso de sua falta» (Lev. XX, 17).