De Perpetua Virginitate B. Mariae
Caput 16
Nunc illud est quod conamur ostendere, quemadmodum fratres Domini appellentur filii materterae ejus, Mariae, qui antea non credentes, postea crediderunt. Licet fieri potuerit, ut uno statim credente, alii diu increduli fuerint, et hanc fuisse matrem Jacobi et Josetis, id est, Mariam Cleophae uxorem Alphaei, et hanc dictam Mariam Jacobi minoris. Quae si esset mater Domini, magis eam, ut in omnibus locis, matrem illius appellasset, et non aliorum dicendo matrem, alterius voluisset intelligi. Verum in hac parte contentiosum funem non traho, alia fuerit Maria Cleophae, alia Maria Jacobi et Josetis, dummodo constet, non eamdem Mariam Jacobi et Josetis esse, quam matrem Domini.
Et unde, ais, fratres Domini dicti sunt, qui non erant fratres?
Jam nunc doceberis, quatuor modis in Scripturis divinis fratres dici, natura, gente, cognatione, affectu.
Natura, Esau, Jacob, duodecim Patriarchae, Andreas et Petrus, Jacobus et Joannes.
Gente, qua omnes Judaei inter se fratres vocantur, ut in Deuteronomio: «Si autem emeris fratrem tuum, qui est Hebraeus, vel quae est Hebraea, serviet tibi sex annis: et septimo anno dimittes eum liberum abs te» (Deut. XV, 12). Et in eodem: «Constituendo constitues super te principem, quem elegerit Dominus Deus tuus, eum qui ex fratribus tuis sit. Non enim poteris constituere super te hominem alienigenam, quia [Fort. qui] non est frater tuus» (Deut. XXII, 1, 2). Et rursum: «Ne viso vitulo fratris tui, vel ove ejus errantibus per viam, negligas ea: Reversione reduces ea fratri tuo. Quod si non appropinquat tibi frater tuus, neque noveris eum, colliges ea intra domum tuam: et erunt tecum donec quaerat ea frater tuus, et reddes ei» (Deut. XVII, 11). Et Apostolus Paulus, «Optabam, inquit, ego ipse anathema esse a Christo pro fratribus meis, cognatis secundum carnem, qui sunt Israelitae» (Rom. IX, 3, 4).
Porro cognatione fratres vocantur, qui sunt de una familia, id est, patria: quas Latini paternitates interpretantur; cum ex una radice multa generis turba diffunditur, ut in Genesi. «Dixit autem Abraham ad Lot: Non sit rixa inter me et te, et inter pastores meos et pastores tuos, quia homines fratres nos sumus. Ibique, et elegit sibi Lot regionem Jordanis, et elevavit Lot ab Oriente, et discesserunt unusquisque a fratre suo» (Gen. XIII, 8). Et certe Lot non est frater Abrahae, sed filius fratris ejus Aram. Thara quippe genuit Abraham et Nachor et Aram: et Aram genuit Lot. Et rursum: «Abraham autem erat annorum septuaginta quinque, cum exiret de Charan. Et sumpsit Abraham Saram uxorem suam, et Lot filium fratris sui» (Gen. XII, 4).
Quod si adhuc dubitas fratrem, fratris filium nuncupari, accipe exemplum. «Cum autem audisset Abraham, quia captivus ductus est Lot frater suus, numeravit vernaculos suos trecentos decem et octo» (Gen. XIV, 14). Et cum caedem nocturni impetu descripsisset, adjecit: «Et reduxit omnem equitatum Sodomorum, et Lot fratrem suum revocavit» (Ibid. 16). Sufficiebant haec ad ea quae diximus approbanda. Sed ne in aliquo cavilleris, et te quasi lubricus anguis evolvas, testimoniorum stringendus es vinculis, ne querulus sibiles, et dicas, te magis argumentationibus tortuosis, quam Scripturarum veritate superatum.
Jacob, Isaac filius ac Rebeccae, cum fratris insidias metuens, Mesopotamiam perrexisset, accessit et devolvit lapidem ab ore putei, et adaquavit oves Laban fratris matris suae (Gen. XXVIII et XXIX). «Et osculatus est Jacob Rachel, et exclamans voce sua, ploravit, et indicavit Rachel, quia frater est patris ejus, et quia filius Rebeccae est» (Gen. XXIX, 11).
Ecce et hic eadem lege qua supra, frater, sororis filius appellatur. Et iterum: «Dixit autem Laban ad Jacob: Quoniam frater meus es, non servies mihi gratis» (Gen. XXIX, 19). Dic mihi, quae sit merces tua.
Expletis itaque viginti annis, cum ignorante socero, uxoribus filiisque comitatus reverteretur ad patriam, consecutus est eum Laban in monte Galaad.
Et cum idola quae Rachel occultabat quaesita non invenisset in sarcinis, respondit Jacob, et dixit ad Laban: «Quae culpa mea est, et quod delictum meum, quod persecutus es me? et quare scrutatus es omnia vasa mea? Quid invenisti de omnibus tuis? Pone hic in conspectu fratrum tuorum et fratrum meorum: et redarguent inter nos duos» (Gen. XXXI, 36, 37).
Responde, qui sint isti fratres Jacob et Laban, qui tunc fuerant in praesenti. Esau certe frater Jacob absens erat, et Laban filius Bathuel fratres, excepta sorore Rebecca, non habuit.
A Virgindade Perpétua de Maria
Capítulo 16
Isso é o que agora tentamos mostrar: de que maneira são chamados irmãos do Senhor os filhos de Maria, sua tia materna, que antes não eram crentes, e depois creram. Não obstante tenha sido possível que, enquanto um dos irmãos creu imediatamente, os outros tenham permanecido incrédulos durante muito tempo. E a própria mãe de Tiago e de José, a saber, Maria de Cléofas, esposa de Alfeu, era esta Maria designada como mãe de Tiago, o Menor. Se ela fosse a mãe do Senhor, teria se referido a ela, como em todas as passagens, preferencialmente como sua mãe. E, ao chamá-la de mãe desses dois, não teria pretendido que se entendesse mãe de outro. Mas, nesta parte, não estou puxando a corda da controvérsia. Que Maria de Cléofas tenha sido uma pessoa, e Maria, a mãe de Tiago e José, outra, contanto que esteja firmemente estabelecido que Maria, a mãe de Tiago e de José, é distinta da mãe do Senhor.
«E daí», dizes, «foram chamados irmãos do Senhor aqueles que não eram seus irmãos?»
Doravante serás informado dos quatro modos em que a palavra «irmãos» é empregada nas divinas Escrituras: segundo a natureza, a etnia, o parentesco e a afeição.
Segundo a natureza: Esaú e Jacó, os doze Patriarcas, André e Pedro, Tiago e João.
Segundo a etnia, pela qual todos os judeus são chamados irmãos entre si, como no Deuteronômio: «Se tiveres comprado teu irmão, hebreu ou hebreia, ele te servirá seis anos, e no sétimo tu o deixarás ir em liberdade» (Deut. XV, 12). E no mesmo livro: «Estabelecerás um príncipe sobre ti, aquele que o Senhor teu Deus tiver escolhido, que seja dentre teus irmãos. Não poderás estabelecer sobre ti um homem estrangeiro, porque não é teu irmão» (Deut. XVII, 15). E novamente: «Se vês o boi ou a ovelha do teu irmão extraviados, não fiques indiferentes a eles. Deves fazê-los voltar ao teu irmão. Se teu irmão não for teu vizinho, ou caso não o conheças, recolha-os em tua propriedade e guarda-os até que o teu irmão os procure; então os devolverás» (Deut. XXII, 1, 2). E o Apóstolo Paulo diz: «Quisera eu mesmo ser anátema, separado de Cristo, em favor de meus irrnãos, de meus parentes segundo a carne, que são os israelitas» (Rom. IX, 3, 4).
Além disso, chamam-se irmãos por parentesco os que pertencem a uma única família ou estirpe, que os latinos designam por «paternidades», porque de uma única raiz se estende uma grande multidão de descendentes, como em Gênesis: «Abraão disse a Ló: ‘Que não haja discórdia entre mim e ti, entre os meus pastores e os teus pastores, pois somos irmãos!’ Então Ló escolheu para si a região do Jordão, e Ló emigrou para o Oriente. Assim eles se separaram cada um de seu irmão.» (Gên. XIII, 8). E certamente Ló não é irmão de Abraão, mas filho de seu irmão Arã. Pois Taré gerou Abraão, Nacor e Arã. E Arã gerou Ló. E novamente: «Abraão tinha setenta e cinco anos quando partiu de Charan. E Abraão tomou sua mulher Sara, e Ló, filho de seu irmão» (Gên. XII, 4).
Mas, se ainda duvidas que o filho do irmão é chamado de irmão, recebe um exemplo: «Tendo ouvido Abraão que seu irmão Ló foi levado cativo, ele contou trezentos e dezoito de seus escravos» (Gên. XIV, 14). E depois de descrever o massacre noturno com o ataque súbito, acrescentou: «E reconduziu toda a cavalaria de Sodoma, e tornou a chamar Ló, seu irmão» (Ibid. 16). Estas passagens seriam suficientes para provar o que afirmamos. Mas, para evitar que tergiverses sobre algum ponto e te precipites como uma serpente escorregadia, deves ser aprisionado pelas cadeias de testemunhos, para evitar que, queixando-se, assobies e digas que fostes vencido mais por argumentos complicados do que pela verdade das Escrituras.
Jacó, filho de Isaac e Rebeca, quando, temendo os ardis de seu irmão, tinha ido para a Mesopotâmia, se aproximou, retirou a pedra da boca do poço e deu de beber às ovelhas de Labão, irmão de sua mãe (Gên. XXVIII et XXIX). «E Jacó deu um beijo em Raquel e, bradando com sua voz, chorou. E declarou a Raquel que ele é irmão de seu pai, e que é filho de Rebeca» (Gên. XXIX, 11).
Eis aqui também, segundo a mesma regra pela qual, acima, o filho da irmã é chamado de irmão. E de novo: «Então disse Labão a Jacó: ‘Visto que és meu irmão, não me servirás de graça. Indica-me qual deve ser teu salário.» (Gên. XXIX, 15).
E assim, quando, ao cabo de vinte anos, sem o conhecimento de seu sogro e acompanhado por suas esposas e filhos, estava retornando para sua pátria, Labão o alcançou no monte Galaad.
Como não tinha encontrado nas bagagens os ídolos procurados que Raquel escondeu, Jacó respondeu e disse a Labão: «Qual é meu crime, e qual é minha falta, que expliquem o fato de teres me perseguido? E por que revistastes todos meus utensílios? Que encontrastes de tudo que te pertence? Põe-no aqui sob os olhares de teus irmãos e meus irmãos, e que eles ponderem entre nós dois» (Gên. XXXI, 36, 37).